Televisão ligada, comercial aleatório. Cortinas balançavam
com a chegada da brisa da tarde,
naquele 4° andar. A buzina dos carros fazia a trilha sonora. Ao fundo o sino
da igreja badalava as 6, ecoando dentro
daquele apartamento minúsculo e quase vazio, como os tantos outros que
completavam a paisagem.
Vazio.
Apesar de possuir uma TV ligada, uma foto das filhas ao lado na estante, cortinas esvoaçantes, um sofá de três lugares, um quarto com camas, uma dispensa ainda cheia e uma varanda para o pôr-do-sol enfumaçado.
Vazio.
Apesar de possuir uma TV ligada, uma foto das filhas ao lado na estante, cortinas esvoaçantes, um sofá de três lugares, um quarto com camas, uma dispensa ainda cheia e uma varanda para o pôr-do-sol enfumaçado.
Vazio.
(Esse texto faz parte do E-book "Caderno de Memórias afetivas" - uma coletânea de textos produzida por mim e disponível na Amazon)
Porque não se trata exatamente de ter, mas de ser, e aquele homem que agora se sentava apoiando as mãos sobre os joelhos, com o olhar fixo no chão, não sabia ao certo quem era.Ser é algo complexo, em um momento somos (ou temos) tudo e no outro nem a metade, pela simples questão de confundir os verbos.
Alguém precisava tocar a campainha e dizer isso a Pedro. Porque Pedro não sabia que o que
era ia além de ter um bom emprego que pagasse suas contas, além do carro do ano que ajudava a compor a canção das 5 da tarde no pontilhão engarrafado, além das mulheres com quem costumava sair para não estar só nas noites agitadas de sábado e das garrafas vazias embaixo da pia.
Alguém precisava tocar a campainha e dizer isso a Pedro. Porque Pedro não sabia que o que
era ia além de ter um bom emprego que pagasse suas contas, além do carro do ano que ajudava a compor a canção das 5 da tarde no pontilhão engarrafado, além das mulheres com quem costumava sair para não estar só nas noites agitadas de sábado e das garrafas vazias embaixo da pia.
E não sabendo disso, sem os amigos, as festas, essas mulheres, o carro e o maldito emprego, ali, dentro daquele apartamento, Pedro era só alguém perdido em meio aos vários Pedros que criou para se adequar.Pedro era mais e alguém precisava dizer isso a ele, mas ninguém o faria, pois todos estavam ocupados demais, com suas mãos sobre os joelhos, o olhar fixo no chão, pensando sobre o próximo dia que está entre a ida e a volta do pontilhão.
(Esse texto faz parte do E-book "Caderno de Memórias afetivas" - uma coletânea de textos produzida por mim e disponível na Amazon)
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